Cobrir SP com Wi-Fi gratuito é utopia, diz especialista


Projeto da Prefeitura promete disponibilizar internet à população.

Em Nova York, nos Estados Unidos, as pessoas podem se sentar num banco de praça para usar internet sem fio gratuita; em Paris (França), museus, bibliotecas municipais e outros locais públicos contam com o serviço, como acontece em Bangcoc, na Tailândia. Grandes cidades do mundo atendem à população quando o assunto é Wi-Fi livre, então por que São Paulo, maior município da América do Sul, quinto maior do planeta, ainda não tem algo parecido?


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Há algumas semanas, em entrevista ao Estadão, o secretário municipal de Serviços afirmou que existe um projeto em discussão para resolver a questão,colocando a cidade entre as que são cobertas por Wi-Fi gratuito. Simão Pedro (PT) chegou a dizer que "é um absurdo uma cidade como São Paulo não oferecer esse serviço ainda", então o Olhar Digital procurou entender como funcionaria a implementação - em primeiro lugar, se ela é mesmo possível.

"Cobrir a cidade inteira é utopia", afirmou à reportagem o presidente da Linktel, Jonas Trunk. Ele explicou que há muitos prédios em SP, e isso cria zonas de sombra, demandando uma quantidade grande de aparelhagem. "Numa cidade como a nossa, que é uma selva de pedra, é muito complicado. Se põe [o transmissor] muito baixo tem problema de vandalismo, se põe muito alto o sinal não funciona."

A Secretaria disse que acabou de iniciar os estudos de viabilidade do projeto e que o processo será colaborativo, "com a participação da população e entidades classistas que podem colaborar com ideias e informações da ordem técnica". O secretário espera contar com Sergio Amadeu, que participou do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mas o nome ainda não está confirmado - a reportagem tentou contatá-lo, mas não obteve retorno.

Como se faz

Não é difícil tocar um projeto como este, segundo Trunk; o problema é a ambição dele. Simão Pedro disse que a Avenida Paulista deve ser o primeiro local a contar com a novidade. Mas, ao Olhar Digital, a Secretaria informou que "implantação do Wi-Fi, a princípio, deve ter início em regiões periféricas, priorizando logradouros de convívio social, como praças e parques".

Os testes começam em junho e, se a Paulista estiver mesmo entre os primeiros locais, o trabalho pode não ser feito plenamente. Como explicou o presidente da Linktel, levaria entre cinco e seis meses para a instalação ser concluída. Sua empresa demorou três meses para colocar antenas em Copacabana, no Rio de Janeiro; mesmo sendo um espaço cerca de três vezes maior, foi mais fácil por causa das condições locais, já que não há prédios na praia para interromper o sinal e dá para fincar antenas em quiosques.

Para fazer o que a Prefeitura de SP promete, o primeiro passo é caminhar pelo local e observar obstáculos e pontos em que podem ser feitas instalações. Depois, a equipe técnica projeta tudo de forma que uma estação enxergue a outra: uma antena emite sinal até certo ponto, então outra antena precisa chegar até o mesmo local para que não haja nenhum buraco (as zonas escuras).

A própria vegetação é um obstáculo, pois o Wi-Fi brasileiro funciona em 2,4 GB, justamente a frequência que serve de "alimento" à folhagem de árvores e outras plantas. As moléculas verdes absorvem o sinal, de acordo com Trunk. Também é preciso pensar em questões como cabeamento, trânsito... "Em uma cidade como SP, rasgar 1 km de rua gera um custo de US$ 50 mil, em media", disse o executivo.

Burburinho

A entrevista de Simão Pedro ao Estadão acendeu um alerta no setor, que pode ter a Prefeitura como concorrente. Afinal, se um bairro inteiro for coberto por internet sem fio gratuita, por que o cidadão local manteria a assinatura de um serviço como Speedy ou NET? "Isso vai atrapalhar todo um modelo de negócios que já existe", previu Trunk.

Na opinião do executivo, ao invés de criar um projeto como este, a Prefeitura deveria melhorar as condições do setor privado, diminuindo a carga de impostos, por exemplo. A internet de SP tem 41% de imposto, segundo ele; no caso do Rio, a taxação é de 46%.

Fonte: Leonardo Pereira (Olhar Digital)

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